Bienal do Livro de Curitiba




Nos primeiros dez dias do mês de outubro deste ano aconteceu a 1ª Bienal do Livro do Paraná. Um local de grande estímulo para a formação de novos leitores e a realização pessoal de quem já está inteirado com o mundo das palavras. Um evento magnífico onde se encontraram ilustres escritores, poetas e demais profissionais do livro, os quais tive oportunidade de conhecer, trocar idéias, sonhos. Pude vivenciar em dois dias, contatos e conhecimentos importantíssimos. Falar de cultura, investigar a literatura faz parte do nosso engrandecimento.

Segundo a imprensa, divulgadora do evento, estimou-se um público perto dos 200 mil visitantes, todavia não pude constatar isto; nos dois dias que estive lá notei certo vazio - dava até pra fazer piruetas entre os corredores - andei livremente e procurava algo de interessante para fotografar. A imprensa relatou a presença de escolas chegando afirmar a freqüência de 30 mil alunos. Cabe aqui ressaltar que o espaço é ínfimo; não caberia nem 10 mil pessoas. O local é pequeno, mas estratégico, sendo que se fosse bem divulgado atrairia um público substancialmente maior. Notei outro detalhe mais agravante: a ausência das escolas públicas. Após o evento, uma professora de uma escola da Rede Pública de Ensino me confidenciou que não ouvira falar do acontecimento grandioso da cidade. O “Estação Convention Center” fica dentro de um dos Shoppings mais freqüentados de Curitiba, e lá visitam diariamente jovens de todos os níveis sociais e culturais. Incrivelmente soube de pessoas que estavam indo a bienal faltando meia hora antes do término geral do evento. Saindo do evento no último dia, um funcionário relatou-me má estrutura de organização e divulgação, apontou-me cartazes colocados em lugares inadequados. Ele me disse textualmente “desça até a praça de alimentação do shopping e veja como lá não tem espaço para se ‘locomover’”. De fato, como pude confirmar aquele local estava lotado, e um maior critério na colocação dos cartazes era o mínimo que se poderia esperar.

Acho importante o avanço cultural que nosso país está atravessando, contudo o desenvolvimento sem estruturação de objetivos não leva a lugar algum. Deveria haver uma parceria entre o governo e os empresários da área para dar educação necessária a aqueles que realmente precisam. É bom que esses encontros aconteçam, seria melhor se alcançassem pessoas que realmente necessitam de aprendizado. O papel das escolas é fundamental neste processo, ao dar um mundo mais justo para os alunos cansados de serem maltratados por seus familiares e pela sociedade. Os passos de uma educação diferenciada dependem de inovação e de educação de qualidade que possam mostrar aos nossos jovens e crianças condições de um futuro melhor.

Os olhos das crianças brilham pelo novo, elas buscam o desejo do aprendizado e, quando oferecemos jogos, livros, brincadeiras, elas tem outra visão do que é a vida. Hoje em dia crianças morrem nos motéis de overdose com apenas treze anos; meninas aprendem a apontar armas as suas próprias bonecas, quando deveriam aprender a brincar e se envolver socialmente com outras crianças.

Cheguei nesta cidade há uma década e meia e não via boca de fumo e tão menos mendigos nas ruas. Atualmente mal posso sair de casa e cruzo com ‘ladrãozinho’ que me fita de cima a baixo; é claro que ele sabe onde moro e também sabe os horários que estou trabalhando e os horários dos meus filhos dentro de casa. Qual a educação que ele teve? Que Brasil estamos criando? Um país onde a questão do aborto é covardemente discutida pelos nossos presidenciáveis e a educação é deixada de lado.

Este evento contou com presenças importantíssimas do nosso meio cultural, Rubem Alves, Fabrício Carpinejar, Alberto Martins, Malvine Salcberg, Ana Paula Vosne,Affonso Romano Sant‘Anna, Marcelo Madureira, Cleu Busatto, Orlando Paes Filho, dentre outros, e todos pertinentes com seus comentários em debates também abertos ao público.

A Bienal do Livro foi um espaço onde aprendi e agradeci por tudo que vi, atividades foram fartas durante os dez dias, mais de setenta horas de programação entre, lançamentos, curiosidades, produtos diversos, excelente programação, liberdade de expressão nos debates, nas críticas. Um evento grandioso, mas que pecou na divulgação.

Tenho profunda tristeza pela falta de formação cultural que há neste país.

Uma pena!

Paola Vannucci

12/10/2010

Comentários

nico disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse…
Tocastes num assunto cujo qual muito me entristece, Paola.
A falta de apoio à cultura... À literatura.
A falta de divulgação de um evento de tão magna importância. E o principal: A falta de INTERESSE pela literatura. Algo gravíssimo, e evidentemente notório em nosso país.
Em algumas cidades do Brasil, isso é ainda mais grave. Lamentavelmente pude notar aqui, na cidade onde nasci, e da qual estive ausente por 14 anos, só retornando há pouco mais de dois anos; que nada mudou. Quando literatura que deveria ter o primeiro lugar de destaque, passa longe de um dia isso acontecer.
Tudo isso é entristecedor.
O mais grave de tudo, é que as pessoas acham que estão a agir certo, que cultura é sempre depois. E eu pergunto: "O que somos, e quem somos sem cultura"?...
É através da cultura, que podemos ser melhores, é através da cultura que podemos crescer, e chegar a lugares melhores, e porque não dizer; TRANSFORMARMOS o nosso país tão carente em tantos aspectos; em um lugar melhor e mais digno.

A nós, fica-nos o sentimento de profunda tristeza, por saber que não é dado o devido valor que de fato merece a cultura, a literatura. E com isso, fica para o país uma lacuna gigantesca, que por sua vez; vai ficando órfão do que traz vivacidade e real aprendizado; A CULTURA, a LITERATURA.

Um beijo Paola querida. E sigamos fazendo o que amamos tanto fazer: ESCREVER... LER.

Nalva Nogueira.
Parabéns pelo artigo!! Deveria ser publicado na imprensa, porque é informativo e crítico.

Penso que todos que trabalham com o mercado editorial, também aqueles que são do setor público e tem o dever de criar e fazer valer políticas públicas culturais, deveriam assistir ao filme "Fahrenheit 451", de 1966, do gênio francês Francois Truffaut. Tudo se passa no futuro, num Estado totalitário, em que os bombeiros tem a função principal de queimar livros, pois as autoridades chegaram à conclusão de que a literatura propaga a infelicidade. Mas, um dos bombeiros passa a questionar essa prática, depois que uma mulher prefere ser queimada com sua biblioteca a entregá-la livremente. Uma fábula sobre a importância da leitura e, por extensão, da cultura e educação na sociedade.
Interesante conceito! Mas um assunto que entra ano e sai ano é sempre tema nas campanhas politicas! O que falta realmente são mecanisco da maquina publica que coloquem em pratica as metodologias que coloquem a cultura aos jovens e crianças como padrão para construir um cidadão de valores e identidade nacionalista!
Will Lukazi disse…
Você foi de uma clareza absurda, um tapa quase de luva se não fosse o peso de várias reflexões sabiamente sugeridas por você no texto. É como disse : o Brasil atravessa por uma fase de avanço cultural, porém sem organização e estruturação pouco se resgatará. Obrigada ,Paola, por ter-me deixado descobrí-la.é tão bom ver pessoas que ainda não se esqueceram dos valores que realmente são importantes nessa vida. Sua sensibilidade ao perceber as coisas ao seu redor chega a ser tocante. Tem um senso ético-político, uma maturidade sobre-humana ao falar de coisas das mais simples como um sorriso como das mais complicadas,o outro.Pena que não consegui seguir seu Blog, talvez pq ainda não tenha a ferramenta de adição. Uma frase no artigo ainda ecoa em meus ouvidos:''Que Brasil estamos criando? Um país onde a questão do aborto é covardemente discutida pelos nossos presidenciáveis e a educação é deixada de lado.''

Esta Bienal realizada talvez nem saiba, mas um ser humano maravilhoso passou por lá. Parabéns.
Muito bom como você impõe tua escrita. Um aspecto é importante ressaltar, não há interesse do estado, nem do mercado que os sujeitos se apropriem da escrita, de maneira crítica, autônoma e audacione sonhos de um mundo igual, criativo e de novos significados. Parabéns pelo artigo, é muito importante ter algo com esse teor...
abraços
L. Rafael Nolli disse…
Paola, muito pertinente a sua observação. Vejo que de modo geral os eventos literários sofrem do mal da má divulgação - isso é um problema geral. Já vi gente sair desesperada de eventos literários para "buscar" alunos na escola mais próxima para ocupar os espaços... E vi isso mais de uma vez. A pergunta que fica: por que não convidar as escolas, todas, anteriormente para os professores se agendarem? Ninguém tem a resposta. O que pode ser um alento, no caso do Paraná, é que se trata da primeira bienal. Assim, que as próximas possam ser mais bem divulgadas! Realmente em termos de conteúdo deve ter sido um evento agradável: um bom time de escritores convidados, uma boa estrutura, etc.
É isso. Abraços!
Rob Novak disse…
A Bienal estava realmente muito boa. Fui em vários dias, acompanhei vários cafés literários e o que me falta agora é tempo pra ler todos os livros adquiridos.
A pena é que, como você bem explanou, o evento tenha sido pouco anunciado e tão poucas pessoas o tenham visitado. Quem sabe, com maior divulgação, mais pessoas percebam a importância de cultivar um olhar crítico do mundo, da vida, através da literatura. Ela, infelizmente, ainda é para poucos. Somente para os que a buscam.
Bjs
Paola muito bom seu texto, seu desabafo. Oo problema do Brasil é que, quanto mais selvagens e selvageria tivermos por aqui, quanto mais pessoas desenformadas e menos politizadas, melhor para os poderosos, que esquecem que no futuro, nem seus carros blindados poderão lhes proteger, "a cultura salva" a ignorância é uma maldição, muito bem vinda em épocas eleitorais, diga-se de passagem.

Eu tenho fome de cultura;
Eu tenho fome;
Eu tenho fome de amor;
Eu tenho fome;
Eu tenho fome do saber;
Eu tenho fome;
Eu tenho fome de meu eterno, ser ou não ser.

Abraços garota, sucesso e que a força esteja com você.

Marcos seu amigo virtual, porém verdadeiro.
Citadino Kane disse…
Paola,
Iniciativas que insiram o livro na pauta da juventude é de suma importância, e sempre festejarei toda feira de livro e bienais. Agora existe o que levantaste, e exige reflexão de todos.
Não gostaria de meter a minha colher nessa panela "coxa-branca" e nem gosto de "barreado", mas gosto dos amigos que tenho em Curitiba.
Estava sumido e resolvi retribuir a tua simpatia de dois séculos atrás.
Beijos,
Pedro
david santos disse…
Olá, Paola!
Passei para te visitar e desejar uma excelente semana.
Abraços.

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